A chama
Amor é fogo que arde, podem ver:
é só fechar os olhos bem sentados,
imaginarmos uma botija de propano,
um aparelho qualquer que faça chama,
e a chama do piloto já ligado.
A chama é azul, constante, invariável.
O azul mais puro (sabiam?) não deixa quase lixos, quase nada.
Pode ser chama branca e aí não deixa mesmo nada,
ou virar para amarela, rubra, ou cor-de-rosa
lilás, cor-de-laranja, acastanhada
é só escolher o que queimar, qual combustível
você é quem decide que traz na sua carrada.
Vai durar o que quiseres, porque é a tua chama
e será infinita enquanto dure.
Vai na tua vontade a manter como entenderes,
com maior ou menor lume, é coisa tua.
Será imortal aqui no teu presente,
Não é uma dor, feridas do passado,
é uma luz azul que é tua, diferente
Não é um roupão que cheire alcanforado
ou letras portuguesas inventadas.
Não é um amante na distância imaginado
Nem é chorar por quem partiu ou vai embora.
É ter contigo próprio lealdades,
sarar aquilo que com ti carregas
é um amor puro em que trascendes
àquele a quem entregas amizades.
Construo logo a minha chama
quebro as sombras,
correntes de ar frio assobiando,
quem disse medo?
A chama me protege, eu no comando,
escolho quanto aquecer segundo as roupas,
o frio do momento, a companhia.
Sou dono disto tudo, sou eu que escrevo
do corpo musculado ou dos cabelos,
dos olhos a brilhar, do riso alegre
de dentes afiados
ou de seios.
Não vou falar de sexo não é isso,
até era tentador mas não agora;
estou no lugar certo, estou no centro
a chama me obedece, eu sou a chama,
aberta a quem quiser quentar sua alma.
O mundo que eu criei já se renova
Redondo, mudo o ritmo encavalgado,
começa o trote, avanço na corrida...
Peraí e olha, minha ´miga.
Vou renovar a chama
é só um instante,
tenho mais cem botijas
só um minutinho.
Apenas um barulho, um pouco frio,
eu sei,
a chama nunca volta ao que era dantes.
Renovo a nova chama novamente.
Melhor, maior,
mais quente,
abraça as suas sombras
olha aos olhos,
Não é uma chama que fascine inexperientes.
É chama artificial, é de botija?
É tão só um poema? Fora disso.
Mas e o calor que traz?
E o seu conforto?
Que bem se está!
É assim,
tão simples,
bonitinho:
Dificil se arredar quando é inverno
daquilo que nos faz estar quentinhos.
Você está convidada
a porta aberta,
apenas entornada se quer vir,
eu fico bem aqui a preservar
a paz e o calor que eu construí.
É coisa de você
se quiser vir.
Já fui e já voltei, andei por onde quis,
dei volta ao mundo, eu já escolhi
não me mover, está-se bem aqui.
Casei comigo próprio
sou feliz.
Cá está o meu lugar para compartir.
É coisa de você se quiser vir.