25
Hoje é o dia,
e um sol vibrante chega para quebrar, cadeias
e estalar, cadeados
após compridas noites de incertezas.
É,
e apesar de alguns,
precavidos, resistentes,
veteranos de mil encruzilhadas insuspeitas
ainda desconfiarem,
um coração, gigante, sobrevoa prados, casais e montes
e rubro sobre verde lateja
sob um sol amarelo de justiça
a iluminar o novo dia.
E é azul e branco o firmamento
limpo e transparente
e rubro norte a sul,
de lés a lés, o latejar gigante.
E a manhã, submersa em cantos de esperança e de namoro,
constrói em bicos de pardais
pousados em flores de amarelo intenso
um hino à paz e à alegria do futuro.
As máscaras caíram,
o ar que se respira e o tempo é novamente todo nosso
e no entanto,
sim,
Mandem para norte,
por favor, urgentemente
algum cheirinho de alecrim...
Amanhece hoje 25
Porque depois do nosso adeus
à noite, ao frio e à chuva crua,
ramos diminutos de esperança floriram, poucos,
aos poucos
para nós,
e abelhões zuniram hoje entre grelos floridos
todo à nossa volta
matando a sede com minúsculas pingas de orvalho e mel.
É um pequeno sinal que a rádio enviou pelo país todo,
e pastores de sonhos a recebem confiantes
pois sabem que é desta vez que de aqui ninguém se arreda
o futuro já se enxerga ou, se agora fracassarmos, tudo rui e acaba.
Sim, hoje o dia grande encher-se-á de vida
e a vida aos poucos encher-se á de dias alegres, prazer e folia
apesar de alguns olharem ainda, clandestinos, renitentes e desconfiados
como é natural, por trás de vidros embaciados.
É 25
e a alvorada que clareja,
cegando carros e motocicletas
que hoje cheios vão também de flores
amarelo gesta, amarelo tojo,
amarelo intenso da carqueija
(a celebrar em breve o maio que lá vem)
ilumina em alvorada intensa
como holofote no palco do teatro
um galo negro que canta uma, duas , três, 25 vezes sempre
seguro do seu poder, beleza e liberdade.
Quem fosse sempre galo!
E estivesse também tão certo de tudo como um 25 que vinca e permanece exemplo já para toda a eternidade
Sim, um abril como todos mereciam e ganharam,
que conquistasse maio e junho e
no qual
até para os mais reticentes, sombrios ou golpeados pelos sofrimentos
alguém guardasse um ramo,
um cravo,
uma pétala de flor que fosse.
E enquanto alguns estamos ausentes
guardem uma flor, um simples recado que nos deixem
Guardem sim um cravo para nós,
para mim
para todos nós.
Capitão, hoje e sempre, feiticeiro, operário,
surfista ou pirata ébrio e feliz na sua ousadia,
um homem comanda um último sortilégio,
um batalhão de livre verso
e letras blindadas,
a melhor guarda real,
a tropa de elite, da poesia,
guardada sempre-pronta
justo para este momento
aqui onde ninguém nos põe a pata encima
e o alento é o último que nos resta.
Lá vai sereno
atirando contra o vento brochuras, cravos,
gritos de esperança
e um tudo ou nada à risca, poema livre,
companheiro, camarada.
E ele é o alento, o sol,
o coração amigo, o galo,
as sete cores deste dia
ou um simples cravo vermelho,
que nos devolve
poema, feitiço, sortilégio
visões dum futuro pleno.
Um coração-poema também tranquilo e calmo que lateja e se aproxima já
e inunda de cor, calor e mensagem certa
peitos a respirar, aroma de limão, pinheiro, arçã,
cravo e pimenta.
E é assim que,
coração-poema, chi-coração-poema, poema-abraço latejante,
ao chegar ao pé de nós
com uma voz que
inunda
a nossa mente,
vísceras e entranhas,
até tocar o fim das unhas
e a última ponta dos cabelos,
É assim que, finalmente, fala:
sim, a esperança é uma arma carregada de futuro.
eu sei o que o futuro vos traz,
vocês merecem.
Não tenham nunca mais medo ou incertezas
o futuro é vosso.
Sim.
Haverá primavera